O investimento na ferrovia para além de um imperativo de desenvolvimento futuro, deverá ser encarado como uma forma de mobilidade sustentável. Na nossa região os acessos rodoviários são cada vez melhores, não havendo praticamente uma oferta à altura por parte da ferrovia. Uma viagem para o Porto e Coimbra só tem a possibilidade de ligação por modo rodoviário, enquanto que para Lisboa as ligações por modo ferroviário não são competitivas (o melhor tempo entre Lisboa e Covilhã são 3h42). Enquanto nós nos orgulhamos em electrificar linhas que ficam a 90 km/h outros na Europa fazem fortes investimentos na ferrovia, modernizando-a. A actualidade internacional ao nível do preço do barril de petróleo e a situação grave ao nível dos gases de efeitos de estufa fazem com que a escolha pelo modo de transporte ferroviário seja cada vez mais um investimento de futuro e a pensar nas próximas gerações. E já agora... Se uma empresa multinacional se quiser fixar na Covilhã, como conseguirá escoar por via ferroviária os seus contentores (ou recebê-los) para o norte do País ou para a Europa? Fica a questão...
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Deixo um artigo do Público de hoje:
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Comboio polui menos do que o avião, mas é este que beneficia de isenções fiscais
"Os operadores ferroviários pagam IVA e repercutem-no no preço dos bilhetes, mas as companhias aéreas não. E o mesmo acontece nos combustíveis: os comboios a diesel pagam impostos sobre o fuel, mas as companhias aéreas não pagam taxas sobre o combustível". Andre Navarri desafia, por isso, a Comissão Europeia a introduzir uma politica de verdade na concorrência entre os modos de transporte, tanto mais que tem sido o caminho-de-ferro, e em particular com a alta velocidade, que mais tem contribuído para a redução da emissão de dióxido de carbono.
Os números apresentados durante o Eurailspeed, o 6 Congresso Mundial de Alta Velocidade, que termina hoje em Amesterdão, mostram que um TGV emite quatro quilos de CO2 por cada 100 passageiros-quilómetros transportados, ao passo que essa cifra é de 14 quilos num automóvel e de 17 no avião. Por outro lado, a quantidade de litros de gasolina necessários para transportar cem passageiros por quilómetro é de 2,5 no TGV, seis no automóvel e sete no avião.
Daí a tese, defendida no congresso, do importante contributo da alta velocidade para o desenvolvimento sustentável que deverá levar as pessoas a olhar para o modo ferroviário não só como o modo de transporte mais seguro e mais rápido, como também o mais amigo do ambiente. E daí, também, a curva ascendente do numero de linhas de grande velocidade que tem vindo a ser construídas no mundo inteiro e que atingem este ano a fasquia dos 10 mil quilómetros. Este valor, porém, deverá duplicar nos próximos quatro anos.
Hubert du Mesnil, presidente da RFF (Rede Ferroviária Francesa) diz que "a grande velocidade não deve ser sinónimo de endividamento" a partir do momento em que parcerias público-privadas permitem partilhar riscos e acelerar projectos que, cada vez mais são aceites e desejados pela opinião publica.
A própria SNCF (operadora ferroviária francesa, homologa da CP) construiu um eco-simulador que pôs no seu site onde as pessoas podem comparar o preço, o tempo de percurso e a emissão de CO2 numa viagem entre duas cidades para quatro modos de transporte - TGV, companhia aérea, low coast e o automóvel. Do ponto de vista da mobilidade sustentável as diferenças são brutais a favor do comboio. Mas a Air France e a Britihs Airways não gostaram e meteram a SNCF em tribunal alegando que era publicidade enganosa. Os números, porém, estavam certos porque foram fornecidos pela Ademe, a agência governamental francesa para a promoção da economia de energia, e o tribunal deu razão a SNCF. O simulador pode ser encontrado em
http://www.voyages-scnf.com/.